"Mostrar a minha criatura, a minha esposa? Rasgar o véu com que cobri castamente a minha felicidade? Seria uma horrível prostituição! Há dez anos que vivo com esta mulher. Ela é minha, só minha. Ama-me. Não me sorriu ela a cada pincelada que lhe dei? Ela tem uma alma, a alma que lhe dei. Coraria se outros olhos que não os meus pousassem sobre ela. Dá-la a ver! Mas qual é o marido, o amante suficientemente vil para conduzir a sua mulher à desonra? Quando pintas um quadro para a corte, não pões nele toda a tua alma, não vendes aos fidalgos senão manequins coloridos. A minha pintura não é uma pintura, é um sentimento, uma paixão! Nascida no meu atelier, lá deve permanecer virgem, e de lá não pode sair senão vestida. A poesia e as mulheres não se entregam nuas senão aos seus amantes! Possuíremos nós as figuras de Rafael, a Angélica de Ariosto, a Beatriz de Dante? Não! Não vemos nelas senão formas! Pois bem! A obra que tenho lá em cima aferrolhada é uma excepção na nossa arte; não é uma tela, é uma mulher!"
Honoré de Balzac, A obra-prima desconhecida
Tuesday, February 26, 2008
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