A mão que desenha é a mesma mão que escreve, a mão que esculte ou pinta continua a ser a mesma que escreve: palavras, frases, textos. Podem ser cartas, romances – ainda que hoje esta relação esteja perturbada com a escrita directa em computador – ou podem ser imagens. O trabalho de Ana Hatherly situa-se num local onde são imediatas as associações à poesia visual, mas muito mais que esta característica histórica, o lugar que a artista ocupa caracteriza-se pela consciência da inteligência que a mão possui. Por isso aquilo que a um primeiro olhar parece ser uma mera repetição automática e sem sentido de letras ou palavras – neste caso “fado” – transforma-se no gesto libertador da imagem que cada palavra possui. É como se se tratasse de uma cartografia especial dessas imagens escondidas no coração sensível de cada uma das palavras.
O desenho é o operador dessa transformação que se revela uma libertação: da gramática, do significado, do dicionário, da estrutura lógica da língua; transformando todos estes elementos no próprio suporte da obra de arte, na sua matéria. Não é que o trabalho de Hatherly seja um trabalho “linguístico” , mas anima cada seu gesto a certeza que o material sensível – experiências, vivências, visões - que repousam no fundo – como se fosse o leito de um rio – da palavra podem ser redescobertas numa inversão do processo habitual: da vida para o conceito, para a formalização, para o discurso, para a palavra. A repetição, quase ao infinito, da palavra “fado” apresenta essa tensão: dar a ver aquilo que se deixa na própria palavra. Claramente existe um aspecto plástico e formal – não se pode negar que a escrita da palavra assume uma forma determinada -, mas esse não isso não é o fundamental. Crucial é a metamorfose da caligrafia em imagem e esta última impõe-se como o lugar da mancha já não significativa ou gramatical, mas sim como mancha de cor, de forma, de sombra.
Um dos elementos fundamentais para ver/compreender o trabalho de Hatherly – e o presente caso é um bom exemplo – é saber da sua relação intima com a poesia. Só assim a convicção que o ritmo da palavra dita também faz parte da estrutura desenhada ganha a sua plenitude. A poesia, e talvez seja este o conceito que melhor se aplica a esta artista, é precisamente esse gesto de tornar denso, complexo, imbrincado. É a arte de associar sons, sentidos e imagens e com estes materiais criar coisas sempre novas: as palavras ganham todo um novo universo de associações e às imagens, gentil ou brultalmente evocadas, passa a corresponder um modo de vida, um modo de serem ditas. A voz é o operador que, acompanhando a mão que escreve e descreve, diz, expele, transforma. Dizer imagens e ver palavras é talvez seja a melhor abreviatura do fazer de Ana Hatherly: ao princípio parece qualquer coisa paradoxal e absurda, depois revela-se como a elevação das potências latentes no que dizemos, no que fazemos e no que vimos.
O desenho é o operador dessa transformação que se revela uma libertação: da gramática, do significado, do dicionário, da estrutura lógica da língua; transformando todos estes elementos no próprio suporte da obra de arte, na sua matéria. Não é que o trabalho de Hatherly seja um trabalho “linguístico” , mas anima cada seu gesto a certeza que o material sensível – experiências, vivências, visões - que repousam no fundo – como se fosse o leito de um rio – da palavra podem ser redescobertas numa inversão do processo habitual: da vida para o conceito, para a formalização, para o discurso, para a palavra. A repetição, quase ao infinito, da palavra “fado” apresenta essa tensão: dar a ver aquilo que se deixa na própria palavra. Claramente existe um aspecto plástico e formal – não se pode negar que a escrita da palavra assume uma forma determinada -, mas esse não isso não é o fundamental. Crucial é a metamorfose da caligrafia em imagem e esta última impõe-se como o lugar da mancha já não significativa ou gramatical, mas sim como mancha de cor, de forma, de sombra.
Um dos elementos fundamentais para ver/compreender o trabalho de Hatherly – e o presente caso é um bom exemplo – é saber da sua relação intima com a poesia. Só assim a convicção que o ritmo da palavra dita também faz parte da estrutura desenhada ganha a sua plenitude. A poesia, e talvez seja este o conceito que melhor se aplica a esta artista, é precisamente esse gesto de tornar denso, complexo, imbrincado. É a arte de associar sons, sentidos e imagens e com estes materiais criar coisas sempre novas: as palavras ganham todo um novo universo de associações e às imagens, gentil ou brultalmente evocadas, passa a corresponder um modo de vida, um modo de serem ditas. A voz é o operador que, acompanhando a mão que escreve e descreve, diz, expele, transforma. Dizer imagens e ver palavras é talvez seja a melhor abreviatura do fazer de Ana Hatherly: ao princípio parece qualquer coisa paradoxal e absurda, depois revela-se como a elevação das potências latentes no que dizemos, no que fazemos e no que vimos.
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